A recuperação da orla de Matinhos pode representar um ganho econômico e de arrecadação de R$ 550 milhões para o município. Este é o resultado do estudo de uma consultoria contratada pela prefeitura local para avaliar os prejuízos da cidade em razão da deterioração de uma grande extensão da faixa de praia.

“Esta soma inclui os prejuízos causados pela queda de investimentos comerciais e imobiliários, redução do fluxo turístico e de novos negócios. Tudo devido a degradação da orla e as consequências ambientais que isso trouxe para a cidade”, explica o prefeito de Matinhos, Eduardo Dalmora.

O presidente da Associação Comercial de Matinhos, Milton Araújo, defende a realização do projeto de recuperação da praia. “Nos últimos dois anos, o problema já não é apenas econômico, mas de segurança também. É uma obra emergencial”, declarou.

Segundo ele, os comerciantes da região já deixaram de investir nos negócios há muito tempo. “Os comércios que ficam no trecho degradado não conseguiram mais se desenvolver e paralisaram os investimentos”, completou Araújo.

Em oito quilômetros de praia o que se vê em Matinhos é o mar cavando o calçamento, destruindo as pistas de caminhada, atingindo o comércio local, as residências e representando um risco cada vez maior para os moradores e turistas.

“A praia representa um anteparo natural para as ondas. A falta de areia faz com que as calçadas e obras ao longo da orla recebam diretamente a energia das ondas. Em um período de maré alta ou de ventos fortes, o problema de falta de amortecimento se potencializa e destrói tudo que vem pela frente”, explica a professora e doutora em engenharia costeira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cynara de Lourdes da Nóbrega Cunha.

Ela afirma que as intervenções urbanas em áreas costeiras podem provocar o assoreamento e a alteração da qualidade da água. “As construções impedem a troca da areia que está na praia com a areia localizada nas áreas de dunas, gerando graves problemas de erosão. Isso só tende a aumentar”, informa Cynara.

DEFINITIVO – Com o intuito de reverter o quadro o Governo do Paraná, por meio do Instituto das Águas do Paraná – autarquia da Secretaria do Meio Ambiente – contratou uma empresa especializada para a elaboração de um projeto executivo de engenharia para recuperação e proteção permanente da orla de Matinhos.

O objetivo é reconstruir oito quilômetros da orla do município, no trecho de praia que vai do Morro do Boi até o balneário de Sant’ Etiene. Comumente conhecido como “engorda da praia” o projeto contratado pelo Estado é o único até agora que detalhou as intervenções necessárias para resolver definitivamente o problema em Matinhos.

“Este projeto garantirá a proteção permanente da orla de Matinhos contra a erosão marinha”, afirma o presidente do Instituto das Águas do Paraná, Márcio Nunes. Ele lembra que até hoje muitas ideias e estudos preliminares foram apresentados. “Nenhuma iniciativa foi levada adiante pelos governos que se sucederam por não haver a garantia de solução perene”.

O projeto executivo foi elaborado pela empresa Aquamodelo, especialista em projetos de engenharia costeira, oceanografia, hidrologia, saneamento e impactos ambientais, que já conhecia a situação da orla de Matinhos.

O custo final para a realização da obra foi orçado em R$ 521 milhões pelos técnicos. “Este projeto tem uma abrangência e fundamentação muito maior do qualquer outra proposta apresentada até o momento. Atende todas as exigências necessárias para que possa ser licitado”, reforça Márcio Nunes.

ENGORDA – No trecho de oito quilômetros onde será feita a engorda da praia haverá uma reposição de faixa de areia de 50 metros, em período de maré alta. “Isso significa que em período de maré baixa teremos cerca de 100 metros de areia em um trecho onde não existe mais praia”, explica Eduardo Felga Gobbi, coordenador da área socioambiental da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná.

Serão utilizados para a engorda da praia mais de 3,2 milhões de metros cúbicos de areia – retirados e transportados de uma jazida que fica distante cerca de cinco quilômetros da praia. “Para que se tenha uma ideia, este volume de areia equivale a 107 mil carretas com capacidade para carregar 30 toneladas”, compara Gobbi.

Ele destaca ainda que um estudo de granulometria da areia precisou ser feito para escolha do local de onde será retirado o material que será utilizado na engorda. “A areia da engorda vai recompor a quantidade necessária para que a praia seja recuperada. Além disso, o licenciamento ambiental prevê o monitoramento permanente desta areia”, explica Gobbi.

GRANDE ESTRUTURA – Para fazer com que a areia da engorda permaneça no trecho que será recuperado, serão construídas estruturas conhecidas como guias de correntes e headlands, que atingirão até 150 metros dentro do mar.

“São barreiras artificiais, formadas por estruturas muito grandes, que desempenham o papel de rochas naturais”, esclarece José Antônio Scroccaro, coordenador do projeto pela empresa Aquamodelo.

Para o trabalho serão necessários quase 190 mil metros cúbicos de pedras detonadas e mais 64 mil metros cúbicos de concreto ciclópico, que é utilizado em grandes obras.

Os guias de correntes serão instalados na direção da Avenida Paraná, no canal de Matinhos e no canal do balneário de Sant´Etiene. Já os headlands serão colocados no balneário de Riviera e no balneário de Sant’ Etiene. “Este tipo de intervenção representa 75% do custo da obra”, explicou o Scroccaro, lembrando que as guias darão maior fluxo às águas fluviais, ajudarão no controle de cheias e na balneabilidade.

O prefeito de Matinhos, Eduardo Dalmora, lembra que a construção de um headland salvou a Praia Mansa de Caiobá de ter o mesmo destino da Praia Brava, há 25 anos. “O mar estava destruindo a Praia Mansa e a construção desta estrutura de pedra foi o que manteve o local protegido até hoje”, frisou.

Outra parte importante do projeto são as obras de microdrenagem e macrodrenagem dos canais. Com a ampliação e limpeza dos canais o volume de água destinado para o mar será reduzido, além de evitar enchentes e alagamentos que atingem diferentes bairros de Matinhos em período de chuvas fortes.

As obras de macro e microdrenagem estão previstas para os canais da Avenida Paraná, canal Milhome e Canal do Rio Matinhos – os maiores da cidade. “A limpeza e desassoreamento dos canais trará benefícios para a balneabilidade, para o projeto de engorda e para as populações vulneráveis que sofrem com a possibilidade de cheias”, explica Scroccaro.

PAISAGISMO – A última etapa do Projeto será a implantação de projetos arquitetônicos e de paisagismo, contemplando novas áreas de lazer e turismo na orla. Entre os serviços inclusos estão a construção de ciclovias, pistas de caminhada, passarelas e pontes, plantio de árvores nativas, recomposição e proteção da restinga e iluminação.

Após aprovado e licitado, o Projeto de Proteção da Orla de Matinhos poderá ser concluído em um prazo máximo de dois anos.

FINANCIAMENTO – Concluído em agosto deste ano, o projeto executivo foi cadastrado no Sistema de Convênios do Governo Federal (SICONV), do Ministério da Integração Nacional e, sendo aprovado, deverá ser submetido às regras de organismos financiadores.

O diretor do Instituto das Águas, Everton de Souza, ressalta que para execução do projeto será aberta concorrência pública. “Todos os interessados em participar da concorrência poderão apresentar propostas financeiras menores que o valor estabelecido no projeto executivo, respeitando a exigência da garantia de cumprir todas as etapas previstas”, destaca.

Números:

8 km de obras na orla
190 mil m3 de pedras
64 mil m3 de concreto ciclópico
107 mil carretas de areia
Combate à erosão:
Implantação de estruturas marítimas
Engordamento da faixa litorânea
Proteção e defesa costeira
Macrodrenagem e microdrenagem dos canais
Revitalização Urbanística:
Pavimentação
Sinalização
Paisagismo
Iluminação
Passarelas
Ciclovias
Pistas de caminhada
Pontes.

Fonte: AEN.

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